A resistência aos antimicrobianos (RAM) é um problema de saúde mundial e, atualmente um problema de saúde única mundial, afetando os seres humanos, animais e o ambiente que vivemos. A RAM têm aumentado nos três âmbitos em todo o mundo, acarretando sérios problemas, como falha da terapia antimicrobiana, aumento das taxas de mortalidade e letalidade, custos hospitalares, disseminação de microrganismos e de mecanismos de resistência, chamando atenção de todas as instituições de saúde.
Com isso, pesquisadores, cientistas e instituições de saúde de todo o mundo vêm tentando entender esse fenômeno natural e formas de chamar atenção do uso correto de antimicrobianos para diminuir a pressão seletiva exercidas nestes microrganismos e consequentemente ganharmos tempo para mais pesquisa e desenvolvimento na área da RAM. Um desses esforços foi a lista de patógenos prioritários da OMS, a primeira versão foi lançada em 2017, incluindo microrganismos classificados como prioridade critica: Pseudomonas aeruginosa resistente aos carbapenemas, Acinetobacter baumannii resistente aos carbapenemas e Enterobacteriaceae resistente aos carbapenemas e cefalosporinas de terceira geração.
A nova lista vem com algumas mudanças, principalmente na forma de análise da determinação dos patógenos bacterianos mais problematicos na RAM, dando uma visão mais ampla e levando em considerações contextos sociais mais específicos. Todo esse esforço ajuda a direcionar quem são os patógenos e fenótipos de resistência prioritários que necessitam de investimento em P&D levando a ações mais eficazes em saúde pública. Somente em 2019, cerca de 1,27 milhões de mortes (intervalo de confiança de 95% = 0,911; 1,71) foram atribuíveis RAM, com uma estimativa adicional de 5 milhões de mortes associadas (intervalo de confiança de 95% = 3,62; 6,57).
Na primeira lista de 2017 foram incluídos 13 patógenos bacterianos com fenótipo de resistência preocupante, levando em consideração critérios como padrão de resistência, co-resistência e níveis de investimento em P&D. Para mais informações sobre esta lista de 2017 acesse: WHO publishes list of bacteria for which new antibiotics are urgently needed.
Acesse a lista completa: OMS_2024
Tabela 1: Lista de patógenos prioritários de acordo com fenótipo da OMS 2017.
Prioridade 1: Critica
Acinetobacter baumannii, resistentes aos carbapenemas
Pseudomonas aeruginosa, resistentes aos carbapenemas
Enterobacteriaceae, resistentes aos carbepenemas e cefalosporinas de terceira geração
Prioridade 2: Alta
Enterococcus faecium, resistente a vancomicina
Staphylococcus aureus, resistente a meticilina, resistente ou intermediario a vancomicina
Helicobacter pylori, resistente a cloritromicina
Campylobacter spp.,resistente a fluoroquinolonas
Salmonellae, resistente a fluoroquinolonas
Neisseria gonorrhoeae, resistente a cefalosporinas, resistente a fluoroquinolonas
Prioridade 3: Média
Streptococcus pneumoniae, não-susceptivel a penicilina
Haemophilus influenzae, resistente a ampicilina
Shigella spp., resistente a fluoroquinolona
A determinação dos patógenos prioritários de 2017 levou ao surgimento de nove antimicrobianos novos na prática clínica, porém ainda assim não foi suficiente para contornarmos a situação da RAM e já foram descritas cepas resistente a todos eles. Sendo, a RAM um processo dinâmico e continuo se faz necessário a constante atualização da lista de patógenos prioritários uma vez que o desenvolvimento de novos antimicrobianos não tem acompanhado a evolução da RAM. A nova lista da OMS, divulgada em 2024, surge dessa necessidade e leva em consideração mais dados e informações disponíveis em publicações e programas de vigilância da RAM de cada país. Além disto, a nova lista também inclui os dados do programa global de tuberculose, colocando Mycobacterium tuberculosis resistente a rifampicina (TB-RR) na lista mas como uma análise a parte visto as características especificas causadas pela tuberculose. Desta forma, esta versão atualizada concentra-se em patógenos bacterianos que causam infecções agudas, resistentes a antibióticos e que representam altos riscos de mortalidade e morbidade, bem como na TB-RR.
METODOLOGIA
Para chegar a uma lista dos patógenos bacterianos foi utilizada uma ferramenta inovadora e que vem ganhando espaço e credibilidade em estudos multicêntricos chamada de Análise Multicritério de Apoio à Decisão (MCDA, do inglês multi-criteria decision analysis). MCDA é uma ferramenta científica de tomada de decisão que monta e avalia alternativas com base em múltiplos critérios, facilitando a tomada de decisão sistemática e transparente em opções complexas.
Desta forma foram definidos oito critérios com pontuações para cada patógeno e então a definição da lista final. Os critérios avaliados para cada patógeno nesta nova lista incluíram: Incidência, mortalidade, tratamento, pipeline (agentes antibacterianos em vários estágios de desenvolvimento), IRAS (Infecção Associada a Assistência a Saúde) ou comunitária, tratamento, transmissão, resistência aos antimicrobianos e letalidade. Para cada patógeno identificado como um problema de resistência aos antimicrobianos foram atribuídos valores para cada um dos critérios citados e juntos levaram a classificação dos patógenos bacterianos em três grupos:
Lembrando que para a Tuberculose foi realizada em uma análise a parte devido as particularidades da doença como transmissão, diagnóstico, tratamento, cronicidade da doença, tratamento de pelo menos seis meses e sequelas originadas.
Com isso, os patógenos classificados dentro dos grupos incluíram:
Na nova lista foram incluídos quatro novos patógenos bacterianos, incluindo Streptococus do grupo A resistente a macrolídeos, Streptococcus do grupo B resistentes a penicilina, Spretococcus pneumoniae resistente a macrolídeos e tuberculose resistente a rifampicina. Enquanto a atualização removeu cinco patógenos considerados importantes no fenótipo de resistente na lista de 2017, incluindo: Helicobacter pylori resistente à claritromicina, Campylobacter spp. resistente à fluoroquinolona, Streptococcus pneumoniae não suscetível à penicilina, Providencia spp. resistente à cefalosporina e S. aureus intermediário e resistente à vancomicina.
A lista de patógeno criada é uma ferramenta global para identificar as principais espécies bacterianas e os seus perfis de resistências mais preocupantes em todo o mundo, chamando atenção para pesquisa e desenvolvimento na área, medidas mais eficazes de controle de disseminação, diagnostico e tratamentos. Lembrando que essa lista não é uma regra e pode ser alterada de acordo com particularidades locais e regionais de cada região. É sempre importante ficar atento a epidemiologia da sua instituição de saúde e tomar medidas de prevenção de acordo com a realidade de cada local.
Por Ivson Cassiano de Oliveira Santos.
Fortalecimento de um Sistema Brasileiro de Vigilância e Prevenção da Resistência Antimicrobiana (RAM)
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